terça-feira, 2 de novembro de 2010

Dia dos mortos

O dia dos mortos
é sempre
cinza-lembrança,
como a chuva
que molha as flores
deixadas à morte.
Aquela beleza
vaidosa vai murchando
mesmo que a chuva
tente com presteza
dar-lhe vida.
Mas no dia dos mortos
a chuva é salobra.
A chuva é infértil.
Eu visito
os túmulos onde jazem
meus pensamentos.
Dou-lhes a presteza
da minha chuva,
a beleza das minhas
flores murchas,
mas todo pensamento
é só vivo
quando o relembramos
já morto.
E olhando-os jazer
não sei porque choro,
se pra molhar o passado,
ou se pra me ressequir do futuro.
Visito o túmulo glamuroso
do passado inglório.
Já morto, mas tão mais vivo,
que este pretenso a morto.
Visito - no dia dos mortos -
o túmulo onde jaz a vida.
Não sei porque, mas choro.
Talvez por estar vivo
no dia e na terra
dos mortos,
que nas lembranças
na chuva,
no cinza,
no solo infértil,
na flor murcha,
vivem.

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