Pá! Pá! Pá!
A picareta lasca-me as sobras,
esculpe-me as rachaduras
num mármore pobre.
Pá! Pá! Pá!
E a brisa escatológica
leva o pó ao caos
leva o pó ao ralo,
eleva o pó à prima-obra.
Pá! Pá! Pá!
Vejam como parece humano,
mas em ser humano quanto parece,
menos humano é ainda que o pó!
Pá! Pá! Pá!
A picareta golpeia com a dureza
de uma bailarina,
que brilha ainda enquanto baila no ar
antecedendo o golpe de candura.
Pá! Pá! Pá!
Pó! Pó! Pó!
Em tirar-me as sobras
sobrou-me o nada só!
Pó! Pó! Pó!
Eis assim que se faz um poeta:
nas palavras lançadas à brisa,
na escultura ferida de morte pela picareta.
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