segunda-feira, 26 de abril de 2010

Soneto à Caronte

Caronte - arquiteta do desfecho,
Com tua boca faço último flerte;
Barqueira dos naufrágios derradeiros,
Possuir-te é do poeta - a sede.

Mata-a, poeta! - Pois a tua morte
É a solitária certeira sorte;
Sobra-te o errante - mesmo o que sentes.
Da algoz: um bailar de língua e dentes.

Fraca a carne instiga-te - vil Caronte,
E o mar embala - nu o que te calas.
Fúnebre, íntimo - teus olhos fecha.

Efêmero o gozo que te abraças,
Vazias as palavras que saciam:
O suspiro último de um poeta.

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