Pá! Pá! Pá!
A picareta lasca-me as sobras,
esculpe-me as rachaduras
num mármore pobre.
Pá! Pá! Pá!
E a brisa escatológica
leva o pó ao caos
leva o pó ao ralo,
eleva o pó à prima-obra.
Pá! Pá! Pá!
Vejam como parece humano,
mas em ser humano quanto parece,
menos humano é ainda que o pó!
Pá! Pá! Pá!
A picareta golpeia com a dureza
de uma bailarina,
que brilha ainda enquanto baila no ar
antecedendo o golpe de candura.
Pá! Pá! Pá!
Pó! Pó! Pó!
Em tirar-me as sobras
sobrou-me o nada só!
Pó! Pó! Pó!
Eis assim que se faz um poeta:
nas palavras lançadas à brisa,
na escultura ferida de morte pela picareta.
domingo, 31 de outubro de 2010
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Tão perto
em estar
tão perto
tão perto
estou
infinitamente
tão distante
quanto certo
que quanto perto
mais fico
distante
errante
em estar
junto
tão perto
tão perto
estou
infinitamente
tão distante
quanto certo
que quanto perto
mais fico
distante
errante
em estar
junto
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Ri
Ri, plateia.
Ri de si,
da piada,
da zombaria
que faço de ti.
Ri de mim,
pois onde vai
para rir
o palhaço,
quando chora?
Ri agora, plateia.
Ora, pois, este riso
só dura uma hora.
Só dura o cair da máscara
que mostra a face
lágrima do palhaço.
Só dura
o cair da cortina.
Ri de si,
da piada,
da zombaria
que faço de ti.
Ri de mim,
pois onde vai
para rir
o palhaço,
quando chora?
Ri agora, plateia.
Ora, pois, este riso
só dura uma hora.
Só dura o cair da máscara
que mostra a face
lágrima do palhaço.
Só dura
o cair da cortina.
Newton
Contrai cada músculo
mostra as veias do pescoço,
escancara teu vigor.
Cerra os olhos
com descomunal força.
Aperta os dedos,
solta um gemido manso.
Colossal força,
usa-a toda.
E ainda assim
não moverás,
sequer uma polega,
a quimera que
fora por ti
sonhada.
mostra as veias do pescoço,
escancara teu vigor.
Cerra os olhos
com descomunal força.
Aperta os dedos,
solta um gemido manso.
Colossal força,
usa-a toda.
E ainda assim
não moverás,
sequer uma polega,
a quimera que
fora por ti
sonhada.
(con)Tradição
Tem medo do escuro
a criança
que mora em
cima do muro
entre o idi e o ego
do homem
de patente.
Mora entre
os músculos,
entre as vísceras,
os nervos de aço,
uma pequenina
criança
que morre de medo
da risada do
Palhaço.
a criança
que mora em
cima do muro
entre o idi e o ego
do homem
de patente.
Mora entre
os músculos,
entre as vísceras,
os nervos de aço,
uma pequenina
criança
que morre de medo
da risada do
Palhaço.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Fantasmas da honra
Fantasmas da honra me assombram.
Caminham deslizantes por minhas palavras,
percorrem vísceras - a veia cava.
Teus urros de moral, em tom funesto, cantam.
Em singulares retratos amarelados,
nos papeis de poesia amassados,
se deitam esses fantasmas velhacos,
em meter castidade neste macaco.
Da ínfima parte não sabem a metade,
e reduzem o infinito a tal parte
do ser - prestes a ser decepado.
De tudo conhecido, sou a outra metade.
Meu grito calou, mas o eco nunca parte.
Fantasma da honra - foste tu o decepado.
Caminham deslizantes por minhas palavras,
percorrem vísceras - a veia cava.
Teus urros de moral, em tom funesto, cantam.
Em singulares retratos amarelados,
nos papeis de poesia amassados,
se deitam esses fantasmas velhacos,
em meter castidade neste macaco.
Da ínfima parte não sabem a metade,
e reduzem o infinito a tal parte
do ser - prestes a ser decepado.
De tudo conhecido, sou a outra metade.
Meu grito calou, mas o eco nunca parte.
Fantasma da honra - foste tu o decepado.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Escola de Ballet
(Ao som de bach)
E um
e dois
e três
e quatro
e leve
e forte
e cinco
e cai
e seis
levanta
e sete
e sua
e oito
na rua
escura
que passa
poeta
derrama
poesia
e passa
e fica
denovo
escura
e anda
e nove
e dez
enfim.
E um
e dois
e três
e quatro
e leve
e forte
e cinco
e cai
e seis
levanta
e sete
e sua
e oito
na rua
escura
que passa
poeta
derrama
poesia
e passa
e fica
denovo
escura
e anda
e nove
e dez
enfim.
domingo, 3 de outubro de 2010
Último poema
Inspira a fumaça do último trago.
Escuta o eco do último brado.
Prende no peito essa fumaça.
Fantasia.
No ar deixa dançar a fumaça.
Aquém boca, um corpo de poeta.
Além, sua última poesia.
Esvazia.
Gastando-se-ia na fumaça dispersa.
Se é corpo ou fumo não se sabe.
Repousa entre o aquém e o além.
Apostasia.
A fumaça se desfazer demora.
Esbafora para além a última poesia.
És agora a fumaça e não o corpo.
Alivia.
Escuta o eco do último brado.
Prende no peito essa fumaça.
Fantasia.
No ar deixa dançar a fumaça.
Aquém boca, um corpo de poeta.
Além, sua última poesia.
Esvazia.
Gastando-se-ia na fumaça dispersa.
Se é corpo ou fumo não se sabe.
Repousa entre o aquém e o além.
Apostasia.
A fumaça se desfazer demora.
Esbafora para além a última poesia.
És agora a fumaça e não o corpo.
Alivia.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Narciso
Em observar narciso -
flor, homem ou depósito de vazios-
faz-se a medida:
É homem e vaidade - belo Narciso
que leva o ego ao ismo
e a face ao espelho d'água.
Afoga-se,
mas nada faz o narrador,
que só sabe o que vê do acontecido:
Vaidade, por certo, afogou o distraído.
O espelho refletiu o homem,
os olhos negros de narciso.
O homem refletiu o espelho,
a água e as lágrimas dos deuses esquecidos.
Refletiam-se em vice-versas,
versos e vísceras.
Narciso não apaixonou-se pelo belo,
Ele quedou-se apaixonado
pelo infinito.
flor, homem ou depósito de vazios-
faz-se a medida:
É homem e vaidade - belo Narciso
que leva o ego ao ismo
e a face ao espelho d'água.
Afoga-se,
mas nada faz o narrador,
que só sabe o que vê do acontecido:
Vaidade, por certo, afogou o distraído.
O espelho refletiu o homem,
os olhos negros de narciso.
O homem refletiu o espelho,
a água e as lágrimas dos deuses esquecidos.
Refletiam-se em vice-versas,
versos e vísceras.
Narciso não apaixonou-se pelo belo,
Ele quedou-se apaixonado
pelo infinito.
Nota
Posto sol,
conforto amigo.
Nota sol,
tons medidos.
Repousa lá
longe e comigo.
Nota lá,
posto-eu sentido.
E se...
contigo,
Nota-si
agudo ruído.
Dá dó,
do doer antigo
Uma dó
a por fim no eu-infindo.
conforto amigo.
Nota sol,
tons medidos.
Repousa lá
longe e comigo.
Nota lá,
posto-eu sentido.
E se...
contigo,
Nota-si
agudo ruído.
Dá dó,
do doer antigo
Uma dó
a por fim no eu-infindo.
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