sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Da janela

Vejo tantas almas e pouca vida
Um ou otro coração que palpita
Passo tímido de volta e ida
Que em face ao tropeço - agita.

Vejo tantos olhos e poucos olhares
Em caótica tragetória trágica,
Embotados da ressaca dos mares,
Mas que em face ao encontro - faz-se mágica.

Vejo tanto barulho e poucas vozes
Roucas, parcas e embargadas;
Ignotas em murmúrios atrozes
Que em face ao silêncio fazem-se caladas.

Vejo tantos artistas e pouca arte,
Enrustida no simples cotidiano.
Hábia pincelada que vem e parte.
De face ao borrão, o artista faz-se humano.

Vejo tantos rostos e pouca face
Que se esconde em mesmo manto,
Fez-se igual para que não gastasse.
Em face ao medo, desfaz-se em pranto.

Vejo tanto sangue e velada guerra;
Metralhadoras e rosas em botão -
Envergonhadas de brotar da terra.
Em face ao balaço - vermelhidão.

Vejo tanto sonho e pouca ação.
Vejo na rua, imensidão.
Tantos iguais que nunca se dão.
Em face ao voo, prefiro o chão.

Augusto Ramos(para Gabi Ramos)

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